quarta-feira, 13 de abril de 2011

Por Uma Teologia Consciente de Si Mesma

Palestra realizada na semana teológica
do Seminário Teológico Betel Brasileiro
Niteroi

7 a 10 de fevereiro/2011

Teologia: Para que serve?
Teologia consciente de si mesma; de seu papel na cultura religiosa; de sua relevância na sociedade pós-moderna. Como estabelecer a relação entre a consciência teológica e uma teologia consciente? Como estabelecer a relação entre a teologia e a cultura pós-moderna?
Estes passam a ser nosso desafio neste seminário a partir de agora.
Acredito que podemos iniciar nossa reflexão analisando o que seja a teologia e o que seja a consciência para depois estabelecer a relação entre ambas, nas perspectivas anteriormente mencionadas. Vejamos.

Teologia é ciência. Ciência da vida. Ciência da vida divina e Sua relação com todas as outras coisas criadas. O sagrado é a razão de toda a existência, bem como a razão de toda relação entre as existências. Nele nós vivemos e nos movemos!
A Teologia (do grego Theós: Deus; Logos: Palavra, por extensão Estudo), literalmente é definida como sendo o estudo sobre Deus. Porém partindo do princípio da definição hegeliana do termo “Teologia”, a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área de conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, como sugere o termo literalmente considerado, a definição de Hegel (1770-1831) que, somente se pode estudar aquilo que se pode observar se torna pertinente e atual, conforme as representações sociais nas mais variadas culturas.
No Cristianismo, isso se dá a partir da Bíblia. O teólogo protestante suíço Karl Barth (1886-1968) definiu a Teologia como um “falar a partir de Deus”.
O termo “teologia” foi usado pela primeira vez por Platão (428-349 a. C.), no diálogo A República, para referir-se à compreensão da natureza divina de forma racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era conduzida pelos seus contemporâneos. Mais tarde, Aristóteles (384-322 a.C.) empregou o termo em numerosas ocasiões, com dois significados:

1o. Teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada filosofia primeira ou ciência dos primeiros princípios, posteriormente chamada de Metafísica por seus seguidores;
2o. Teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior à Filosofia, com uma conotação pejorativa e, sobretudo, utilizado para referir-se aos pensadores antigos não-filósofos (Por exemplo Hesíodo e Féricles de Siro).

Santo Agostinho (354-430) tomou o conceito de Teologia Natural das obras de Varrão (116-27 a. C.), como única teologia verdadeira dentre as três apresentadas por Varrão: A mítica, a política e a natural. Acima desta, situou a Teologia Sobrenatural, baseada nos dados da revelação e, portanto, considerada superior. A Teologia Sobrenatural situada fora do campo de ação da Filosofia, não estava subordinada a Natural, mas sim acima, ajudando-a na compreensão de Deus.
Na tradição cristã (de matriz agostiniana), a teologia é organizda segundo os dados da revelação e da experiência humana. Esses dados são organizados no que se conhece como Teologia Sistemática ou Teologia Dogmática.
Aos ouvidos de uma cultura contemporânea, teologia pode vir a ter o som de coisa velha e caricata. Ao contrário da religião, que continua viva e forte em nossos dias, ainda que sob as mais variadas e sincréticas formas. A teologia, porém, representa o oposto deste vigoroso fervor religioso, pois está mais ligada às estruturas fixas, a análise de uma cultura histórico-religiosa, a reflexão sobre o fenômeno religioso e suas implicações sociais e às formas tradicionais e institucionalizadas da religiosidade.
Entretanto, esta é uma contradição apenas aparente. A teologia, quando desenvolve verdadeiramente o seu papel, não se deixa aprisionar nas amarras do poder temporal-religioso; antes, caminha no sentido da reflexão acerca do hoje firmada nos princípios revelados. Este caminhar da teologia, pode ser identificado com aquilo que Paul Tillich (1886-1965) chama de “princípio protestante”, que luta contra a tentativa do transitório e condicional de tomar o lugar daquilo que é eterno e incondicional. Por isso, ela é necessariamente dinâmica e sempre se reforma. Novos dilemas requerem novas soluções, ainda que solidificadas sobre a rocha das crenças tradicionais.
É na busca dos valores primeiros, dos pressupostos cristãos, aplicados às necessidades e vicissitudes do tempo presente, que a teologia deve desenvolver-se em nossos dias. E não há pressuposto maior, dentro da tradição reformada, do que as Sagradas Escrituras. Deste modo, a reflexão teológica em qualquer tempo e lugar deve ser uma teologia da revelação de forma escrita. Estou convencido de que o melhor caminho para se fazer teologia em nossos dias é criar um diálogo entre os valores da revelação e a nossa realidade, desenvolvendo uma compreensão das particularidades da revelação e, também, do mundo em que vivemos; empreender, enfim, um estudo de contextos.
Assim,  se queremos produzir uma teologia que guarde princípios e prerrogativas temporais, precisamos nos esmerar tanto em caminhar pelas sendas da filosofia, da sociologia, da psicologia, da história e de outras ciências humanas e sociais, como nos dedicarmos ao estudo teológico e exegético. Precisamos nos debruçar com afinco sobre as bases da nossa fé e, também, sobre as expressões do pensamento em nossos dias.
Entendo que para responder aos desafios da experiência histórica de uma sociedade pluralista em todos os sentidos, devemos desenvolver aquilo que poderíamos chamar de uma Teologia Hermenêutica, isto é, uma reflexão teológica que esteja embasada no conhecimento das estruturas e conceitos que permeiam o testemunho da Revelação (as Sagradas Escrituras) e, ainda, no entendimento das intrincadas estruturas que formam o arcabouço da nossa cultura ocidental.
Então, uma vez que introduzimos nossas referências à teologia, cabe-nos considerar sobre a consciência, neste segundo momento de nossa reflexão.
A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações tais como subjetividade, auto-consciência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia, e ciência cognitiva. Alguns filósofos dividem consciência em consciência fenomenal, que é a experiência propriamente dita, e consciência de acesso, que é o processamento das coisas que vivenciamos durante a experiência. Consciência fenomenal é o estado de estar ciente, tal como quando dizemos "estou ciente" e consciência de acesso se refere a estar ciente de algo, tal como quando dizemos "estou ciente destas palavras". Consciência é uma qualidade psíquica, ou seja, pertence à esfera da psiquê humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte.
Função mental de perscrutar o mundo, conforme afirma Steven Pinker (1958), a consciência é a faculdade de segundo momento.  Ninguém pode ter consciência de alguma coisa (objeto, processo ou situação) no primeiro contato com essa coisa; no máximo se pode referenciá-la com algum registro próximo, o que permite afirmar que a coisa é parecida com essa ou com aquela outra coisa, de domínio.
A consciência (organismo do sistema conhecedor humano), provavelmente, é a estrutura mais complexa que se pode imaginar atualmente.
Antônio Damásio (1944), em seu livro O Mistério da consciência, divide a consciência em dois tipos: consciência central e consciência ampliada. Inspirado na tese damasiana, entende-se que a faculdade em pauta é constituída com uma espécie de anatomia, que pode ser dividida, didaticamente, em três partes:

1. DIMENSÃO DA FONTE: Onde as coisas acontecem de fato, o aqui agora: O meu ato de escrever e dominar o ambiente e os equipamentos dos quais faço uso, o ato do internauta de ler, compreender a leitura e o ambiente que o envolve a todos os instantes etc. Essa dimensão da consciência não retrocede muito ao passado e, da mesma forma, não avança para o futuro; ela se limita a registrar os atos presentes, com um espaço-tempo (passado/futuro) suficiente para que os momentos (presentes) tenham continuidade.
2. DIMENSÃO PROCESSUAL: Amplitude de sistema que abriga expectativas, perspectivas, planos e quaisquer registros mentais em aberto; aquelas questões que causam ruídos e impulsionam o ser humano à busca de soluções. Essa amplitude de consciência permite observar questões do passado e investigar também um pouco do futuro.
3. DIMENSÃO AMPLA: Região de sistema que, sem ser um dispositivo de memória, alberga os conhecimentos e experiências que uma pessoa incorpora na existência. Todos os conhecimentos do passado e experimentações pela qual o ser atravessou na vida: Uma antiga profissão que não se tem mais qualquer habilidade para exercer, guardar registros importantes que servirão como experiência em outras práticas. Qual dimensão processual, essa amplitude da consciência permite examinar o passado e avançar no futuro, tudo dentro de limites impostos pelo próprio desenvolvimento mental do indivíduo.

Além da anatomia de constituição, listada acima, a consciência humana também guarda alguns estados: Condições de consciência (vigília normal, vigília alterada e sono com sonhos), modos de consciência (passivo, ativo e ausente) e focos de consciência (central, periférico e distante).
Temos encontrado nos autores alguns tipos de consciências, tais como:

1. CONSCIÊNCIA AUTORITÁRIA: É a voz da autoridade externa que foi interiorizada: Os pais, o Estado, a Religião, as normas sociais. É regida pelo medo ou pelo temor; procura evitar o castigo ou sanção e não age por convicção própria;
2. CONSCIÊNCIA HUMANISTA: É a reação de nossa personalidade total ao seu funcionamento adequado ou não; é o conhecimento íntimo da pessoa, baseado numa avaliação global da existência e da natureza humana, em função de um projeto vital; é a voz do verdadeiro EU que nos convoca para nós mesmos, para tornarmo-nos aquilo que somos potencialmente; é a guardiã da nossa integridade e a voz de nosso desvelo amoroso por nós mesmos.
3. CONSCIÊNCIA SOCIAL: Tem um sentido de espírito de classe, maneira comum de pensar e agir segundo certa concepção de vida em grupo, tal como a preocupação com as exigências do bem comum, das reivindicações da justiça social, preservação ambiental, etc.
4. CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: Capacidade de avaliar a época histórica em que se vive, interpretando-a dentro de suas conexões com o passado e de sua repercussão no futuro, numa autêntica apreciação dos “sinais dos tempos” (características e tendências da época do profetismo)
5. CONSCIÊNCIA RELIGIOSA: Compreensão da existência de um Ser superior e da relação de dependência para com Ele, com seus deveres específicos baseados na fé, na esperança e no amor transcendental.

Destas a que mais nos interessa neste momento é a consciência religiosa, pelo seu aspecto relacional e pela sua característica de promover comportamentos que traduzem o entendimento do fiel a respeito da vontade divina para a sua vida e o consequente resultado da aplicação desta vontade sagrada.
Pois bem, agora que temos uma noção do que é Teologia e do que é Consciência, passemos a busca das respostas para as questões apresentadas no início de nosso discurso, quais sejam: Como estabelecer a relação entre a consciência teológica e uma teologia consciente? Como estabelecer a relação entre a teologia e a cultura pós-moderna?
Acredito que podemos iniciar nossa análise relembrando o que dissemos no início: Teologia é ciência. Ciência é conhecimento que se processa através de objetos de pesquisa e métodos para se alcançar o conhecimento suficiente do objeto pretendido. Daí termos a Metodologia da Pesquisa Teológica ou Teoria do Método Teológico, que nos permite elementos de análise da pessoa divina, tanto essencialmente como em Sua auto-revelação e relacionamento com tudo o que existe a partir e fora d’Ele.
Se tudo o que existe a partir e fora da divindade, tem seu ponto de origem na própria divindade, como querem os criacionistas, podemos entender que esse tudo o que existe fora do sagrado faz parte da pesquisa teológica pela relação de consequência e dependência do sagrado.  Da mesma forma, tudo o que existe, existe culturalmente. Cultura é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada por Edward Burnett Tylor (1832-1917), segundo a qual “a cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. O conhecimento dos elementos culturais está diluído nas mais diversas ciências, daí a importância da teologia ter uma leitura crítica dessas ciências, principalmente da filosofia, da psicologia, da história e da sociologia, não dispensando as demais. O teólogo deve ser, além de um conhecedor profundo de sua ciência, um “especialista em generalidades”, como nos diz Rubem Alves (1933). A diversidade de aplicações teológicas, tais como: Teologia e cultura; Teologia existencial; Teologia da prosperidade; Teologia da Libertação; Teologia Negra; Teologia Feminina; Teologia do Mercado, etc..., que marcam a proximidade da teologia dos pensamentos políticos, econômicos, sociológicos, antropológicos, filosóficos e históricos, entre outros, nos dão a máxima certeza de que existem razões absolutamente significativas para se fazer teologia com seriedade.
Agora, é óbvio que para se alcançar este nível de responsabilidade com a teologia, não bastam apenas algumas disciplinas espirituais como: oração, jejum, vigílias, etc., afinal, teologia séria, acadêmica e comprometida com a cultura onde se desenvolve não se faz apenas com orações, mas com leitura, sensibilidade, pesquisa e muita disciplina intelectual. Não podemos confundir devoção e espiritualidade, que são aspectos religiosos que possuem um conteúdo teológico, com a teologia propriamente dita.
A relação do pensar teológico com a cultura, nos leva a buscar o entendimento do tipo e do nível de consciência aplicada à teologia, consciência essa que é efetivamente religiosa. Antes de continuarmos essa discussão, é preciso que esclareçamos uma coisa: A consciência teológica é historicamente religiosa, ao paso que uma teologia consciente é culturalmente aplicável à análise da religião e ao seu conteúdo de crença.
O que queremos dizer com essa proposição é que há uma distinção clara entre consciência teológica e teologia consciente. A consciência teológica é produto da religião, logo é uma consciência pré-formada, definida pela herança religiosa e que não permite questionamentos. Uma consciência que endossa o conceito sociológico da religião:

“A religião é um conjunto de mitos, símbolos e ritos praticados por uma comunidade de fiéis que divide o mundo em sagrado e profano.”

O mito é o elemento explicativo do resultado final da intervenção do sagrado na natureza, ele não é alguma coisa que se explique, mas é um elemento de crença. Os ritos são as aplicações didáticas do mito, de forma que os ritos dão sentido ao mito. Já os símbolos são representações icônicas do sagrado, são os elementos que dão a sensibilidade visual da divindade com quem o fiel se relaciona. Esses elementos constitutivos da religião, não permitem questionamentos, pois são elementos definidos e aceitos pelo inconsciente religioso da humanidade, carregados ao longo da história por uma herança religiosa plural. Aliás, a religião possui realmente esse caráter explicativo das origens sem a menor possibilidade de interrogações (Vide o Gênesis). O sagrado é aprensentado na religião como aquele de quem não se pode questionar absolutamente nada, pois Sua vontade soberana deu origem à existência, e Sua sabedoria eterna possui os elementos explicativos das razões pelas quais todas as coisas vieram à existência, elementos explicativos, porém, inalcançáveis pelos mortais.
Enquanto a consciência teológica é essencialmente religiosa, uma teologia consciente é essencialmente cultural e pretenciosamente analítica. A consciência de uma teologia consciente é a consciência de acesso, pois uma teologia consciente é uma teologia ciente de algo. Ciente de que há algo ou alguma coisa além dela que é preciso ser alcançada para ser analisada e definida como coerente com a função para a qual veio a possuir existência. Cabe-nos o esclarecimento de que estamos falando de uma existência plena, ou seja, existência física e metafísica, logo a existência divina é elemento de reflexão de uma teologia consciente, uma vez que Deus é aquele algo fora de nós, do qual temos consciência. Pensar Deus a partir da revelação é tão importante quanto pensá-Lo a partir das razões pelas quais se acredita ou não se acredita na existência d’Ele. Ocorre, porém, que acreditar ou não na existência divina é resultado de influências culturais (sociológicas e psicológicas), então temos aqui um outro elemento significativo de análise de uma teologia consciente: A fé.
A fé é um fenômeno humano comum, uma dimensão essencial da ação humana que constitui a existência humana em sua integralidade. Como anteriormente informado, os fatores que condicionam a crença podem ser classificados em sociológicos e psicológicos. Embora esses fatores se sobreponham e se influenciam mutuamente, é necessário encarar sob  esses dois aspectos a tendência que leva o homem a crer.
As condições sociológicas incluem todas as influências determinantes de crença, proveniente da organização em grupos sociais. Atitudes de crença, associadas a ações e palavras, tornam-se contagiosas.  A repetição dá origem a costumes e tradições que revestem o grupo de autoridade. Quando os mais sábios e melhores acreditam surge, além da sanção quantitativa, a qualitativa, e nos inclinamos a aceitar a autoridade do prestígio tanto quanto a do maior número.
Cada geração tem como ponto de partida uma reserva fundamental de crença, aceitas sem críticas, como axiomas impostos pelo conseso geral. Esses costumes constituem hábitos sociais e se incorporam à vida dos indivíduos que os aprovam. Tais atitudes de crença transformam-se numa estrutura característica que não é posta em dúvida, antes é defendida como a própria estabilidade e a ordem, graças as quais vivemos. Somos de tal modo inconscientes dos elementos básicos da crença que a aceitamos como verdadeira sem qualquer dúvida ou resistência, de formas que acabamos por ser produtos de nossas convicções, ou seja, não somos o que somos mas o que acreditamos. Para uma teologia consciente, a análise do coportamento de fé, leva a um questionamento sério: Se somos o que acreditamos, como podemos ter certeza de que o objeto de nossa fé não é nossa crença projetada num desejo inconsciente de onipotência? Do desejo de nos tornar-mos Deus?
As condições psicológicas da crença surgem sob as influências sociais da sugestão e de imitação. A crença é uma atitude social que constitui, sob esse aspecto, uma reação a estímulos persistentes da crença de outrem. É natural que acreditemos no que os outros crêem, assim, quase todas as nossas crenças são socialmente condicionadas.
Para enfatizar nossa tese, gostaria de citar as considerações do psicólogo da religião Paul Jhonson, no seu livro Psicologia da Religião, editado pela ASTE:

“(...) Consideramos erro grave afirmar que uma crença é inteiramente feita, quer de razão quer de irracionalidade. Mas seria igualmente errôneo deduzir que se pode explicá-la por uma só causa quando, na verdade, é produto de numerosos e complexos fatores causais. (...) Afirmamos que em toda crença, há um misto de emoção e raciocínio e que, para compreender a natureza da crença, devemos levar em consideração todo o alcançe das influências sociais, assim como as mais profundas manifestações das forças emocionais que muitas vezes identificamos.”

Concluindo, podemos afirmar que devemos nos voltar não apenas para uma consciência teológica uma vez que essencialmente somos religiosos, mas também para todos os aspectos fundamentais de uma teologia consciente, pois mais importante do que termos ciência teológica da existência do sagrado é entendermos que o sagrado nos possibilitou um meio para, a partir da consciência de Sua existência, desenvolvermos uma análise teológica do resultado da relação do que existe com aquele que possibilitou a real existência.
É possível sim, fazermos uma análise teológica da realidade cultural, é possível sim analisarmos teológicamente o meio social, político e econômico onde nos encontramos, até porque o problema da humanidade não é econômico, não é político e não é social, o problema da humanidade é teológico, e apenas a teologia pode apontar a origem, o desenvolvimento, e as consequências desse problema, pois somente a teologia conhece efetivamente o nome e as implicações desse problema que ela chama de PECADO. Pecado é um conceito teológico, não filosófico. Pecado tem relação com o sagrado, e aquilo que tem relação com o sagrado só pode ser explicado pelo sagrado. Logo, a Teologia se tornou a linguagem humana onde Deus derramou suas revelações cujos objetivos e tornar a humanidade consciente de que é possível ter uma vida bem melhor. O resultado de uma teologia consciente é uma vida socialmente mais saudável coletivamente. A igreja é a comunidade onde se torna possível a concretização desse objetivo divino, que é o de uma relação saudável.
Então nosso desafio é fazermos uma teologia consciente de si mesma, pois isso nos torna consciente de nós mesmos e de nosso lugar no Reino.

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